Testemunho de Abril de 2023

Testemunho de Abril de 2023

Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.

A encruzilhada

Certa manhã acordei com a convicção de que, solitário entre os trabalhadores da
vinha dos Doze Passos, tinha experimentado a negação das promessas, por meu Poder
Superior.
Não de todas as promessas, veja bem. Certas liberdades e percepções tinham
começado a manifestar-se em minha vida. Uma das promessas em especial, entretanto,
começou a se parecer mais e mais com uma bênção decididamente desordenada.
De alguma forma estava toda errada: de dentro para fora, de cima para baixo, tudo torto –
de forma nenhuma do modo que deveria ser.
Telefonei para meu padrinho. Confrontá-lo-ia com minha descoberta e o
desafiaria a negar que eu estava certo. Falei: “Diga-me que estou errado, se puder! Vamos, diga-me que não sou único!”

Ele perguntou, com simpática tolerância: “Sobre o que você está falando?”
“Sobre o que estou falando? Sobre o que estou falando? Pegue esse seu Grande
Livro. Olhe na página 83. Olhe o último parágrafo. Veja o que diz.” Meu padrinho deu um suspiro: “Eu conheço as promessas, filho, mas a que você se refere?”

“Sabe onde diz: “Vamos intuitivamente saber como lidar com situações que
costumavam nos perturbar”? Bem, francamente, eu estou sendo perturbado por
situações com que eu intuitivamente costumava saber como lidar!”
“Dê-me um exemplo.”
“Bem. Certo dia alguém me telefonou e começou a falar sobre outro membro de
CCA. Não soube o que dizer, não soube lidar com a situação. Só consegui pensar naqueles sinais colocados nos cruzamentos, que dizem: PARE, OLHE, ESCUTE.

Fiquei extremamente constrangido, mas fiz a pessoa parar de falar. Olhei para o
que estava acontecendo. Senti-me mal com isso, mas disse: escute, acho que não tenho
o direito de continuar esta conversa.”
Meu padrinho perguntou: “Então, qual é o problema?”
“Então não entende? Em uma ocasião em que, antes, eu teria sido delicado e
sociável, fui grosseiro e hostil. Estou certo de que essa pessoa agora me odeia.

E não o culpo. É isto que você chama de saber intuitivamente como lidar com as situações?”
Ouvi meu padrinho rir baixinho no outro lado da linha: “Se você ler um
pouquinho adiante, pode descobrir que a frase seguinte contém a resposta para seu
problema. Adeus.” Ele desligou o telefone.

Fiquei parado com o fone na mão. Tentei lembrar qual era a linha seguinte das
promessas. Não consegui. Colocando o fone no lugar, fui até onde estava o meu Grande
Livro. Abri-o, e quando meus olhos encontraram a frase que estava procurando, li:
“Subitamente perceberemos que Deus está fazendo por nós o que não
poderíamos fazer por nós mesmos”.

Abril 1978