Testemunho de Dezembro

Testemunho de Dezembro

Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.

A dádiva da vida” 

No ano passado, celebrei meu primeiro Natal em CCA, e foi o melhor de toda a minha vida. Pela primeira vez realmente, esqueci o que receberia de presente, tão absorvido estava na preparação da festa.

O Natal passado foi o primeiro em que não fiquei deprimido. Foi um dia alegre, e foi um dia abstinente.

O Natal anterior a esse me viu fazendo as habituais “coisas”, e ganhando outros 5kg. Senti-me mais infeliz que nunca. Cada ano me trazia cintos maiores, calças mais largas, colarinhos maiores – e menos respeito próprio, menos autoconfiança, menos esperança no futuro, menos alegria de viver.

O médico disse que eu estava no limite para ser diabético, que tinha problemas no coração; essa revelação mandou-me para casa mergulhado na autocomiseração. Enfureci-me: “Não é justo! Tenho apenas trinta e um anos!”

O médico prescreveu uma nova dieta; tentei, falhei, tentei de novo, falhei outra vez – e assim continuou o ciclo, sempre terminando com fracasso. Naquele ano, vivi em alto nível de autodesprezo. Ao perder a batalha do peso, observei que estava convivendo com cada vez menos pessoas. Afastava todos, até mesmo cortei relações com meus pais. Odiava-os por serem eles mesmos, e odiava-me por ser quem eu era. Não podia perder peso para salvar minha saúde, e muito menos minha vida.

Chegou janeiro; e minha esposa, que também é comedora compulsiva, descobriu Comedores Compulsivos Anônimos e começou a frequentar as reuniões. Eu era agnóstico e cético, e acolhia tudo que era novo ou excêntrico com sarcasmo. Quando minha esposa voltava para casa e compartilhava suas experiências em CCA, entretanto, eu ouvia com inusitada mente aberta. Não sei porquê, ou como, mas senti algo diferente, algo espiritual sendo lançado para mim como um dardo de luz.

Em fevereiro cheguei a um ponto decisivo. Depois de comer o dia todo, acordei na manhã seguinte com grave azia, com uma terrível dor de cabeça, e com o estômago desconfortavelmente cheio. Deitado na cama, meus pensamentos voltaram-se para CCA e senti uma cálida presença, uma sensação de algo sereno.

Pela primeira vez, desde que era criança, eu rezei. Pedi a Deus que me ajudasse a viver, que me ajudasse a obter forças para tentar CCA.

Admiti: “Mergulhei até o fundo. Gostaria de dar à vida outra oportunidade. Por favor, ajuda-me.”

Tenho certeza de que estava me aproximando rapidamente de uma morte prematura, mas naquele momento, algo mudou – e nada foi o mesmo, desde então. Senti uma cálida onda de confiança, de coragem, de serenidade, que nunca mais me deixou.

No dia seguinte comecei a seguir um plano alimentar e três dias depois fui à minha primeira reunião de CCA. Para surpresa de minha esposa, nem fiquei entediado, nem saí. Queria tanto o que aqueles CCAs tinham, que estava disposto a continuar voltando. Continuo voltando desde então. Na época do Natal tinha perdido 42kg e vinha mantendo minha meta de peso por cinco meses.

Meu médico está espantado com meu sucesso. Eu também aprecio a perda de peso; mas adoro a vida emocional e espiritual que CCA me deu. Hoje sou um homem livre. Amo a vida e todas as suas oportunidades. Agora não apenas me amo; gosto de mim. Não tenho medo de falhar e, assim, sou capaz de arriscar-me.

Espero ansiosamente por outro Natal de abstinência e sobriedade. Celebrando a dádiva da vida em CCA, rezo para que Deus conceda essa dádiva a todos os comedores compulsivos, estejam onde estiverem.

Dezembro 1982