Testemunho de Junho_2022
Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.
Força permanente
Neste mês estou celebrando meu quinto aniversário de abstinência. Ao dizer-vos isso, os meus olhos se enchem de lágrimas, pois estes cinco anos têm sido um milagre. Nunca em minha vida fiz consistentemente algo por mim durante tanto tempo.
Durante meu primeiro ano de liberdade em relação ao comer compulsivo, eu estava cheia de desejos intensos por comida, o que me deixava contente, porque me lembravam duas coisas: (1) eu tinha uma doença que quase destruiu minha sanidade e (2) com a ajuda de Deus, um dia de cada vez, eu não tinha mais que ficar à sua mercê.
A cada vez que olhava para esses alimentos de minhas comilanças, acendia-se em minha mente um sinal dizendo “veneno”.
No meu segundo ano de abstinência tive que lidar com o defeito do orgulho. Minha depressão e a aversão por mim mesma anteriores estavam quase desaparecidas e eu não fazia mais as coisas doidas que fazia sob a influência de guloseimas. Pulei para a conclusão de que não havia nada errado comigo. E como as pessoas em CCA ouviam-me atentamente, e me amavam incondicionalmente, achei que eu era ótima.
Minha queda foi emocionalmente quase dolorosa, mas, graças a Deus, minha abstinência foi preservada. Felizmente vim a compreender que sou apenas outra comedora compulsiva abstinente – e feliz por ser apenas isso.
No meu terceiro ano, casei-me. O meu marido, membro de Alcoólicos Anónimos, apontava minhas falhas e gracejava sobre elas para sua própria satisfação. Eu lhe devolvia o favor. Mas por causa do amor e da devoção ao nosso programa e de um pelo outro, deixamos de lado nossa infantilidade e começamos a construir um bom casamento.
No meu quarto ano tive um filho, formei-me na universidade com vinte e nove anos, e fiz uma extensa viagem à Costa Leste – tudo no mesmo mês. Se vocês acham que isso não colocou alguma pressão na minha abstinência, tentem fazer o mesmo. Ainda assim, Deus preservou minha abstinência. (O único momento em que meu desejo por comida desapareceu completamente foi durante a gravidez. Deus tem senso de humor!)
No meu quinto ano de abstinência meu marido faleceu, apenas dois meses e meio depois que soubemos que tinha cancro. Durante aquelas dez semanas, enquanto meu marido jazia na cama, Deus deu-me forças para cuidar dele e de nossos dois bebés (tínhamos a custódia de uma criança somente dois meses mais velha do que nosso filho) – e para permanecer abstinente.
A minha gratidão vai para todos as pessoas de nosso programa que me ajudaram a cuidar dos meus filhos e a limpar minha casa durante esse período difícil.
Fiquei de luto muito tempo depois da morte de meu marido, mas estava abstinente. Assumi a responsabilidade de cuidar de meu filho, dei um jeito de ficar longe do hospital para doentes mentais e permaneci abstinente. Nem sempre me lembrava de escovar os dentes ou de lavar o rosto e tive que aprender outra vez como superar a depressão – mas continuei abstinente. Com muito amor, gratidão e alegria, posso dizer sinceramente que a abstinência é a coisa mais importante da minha vida, sem exceção.
Junho 1981