Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.

O grande inventário americano

Parece que muitos CCA’s tê um preponderante desejo de evitar o inventário, com medo de vermos em branco e preto o que já sabemos: que somos seres humanos com reações humanas frente a eventos, adversidades e situações que modelam nossa vida.
Quando a verdade é enfrentada – que não haverá recuperação sem a limpeza da casa – sentimos, algumas vezes, o desejo de escrever a Grande Novela Americana. Um romance é uma peça de ficção, destinada a entreter. O esforço do escritor para fazer do inventário uma obra de boa leitura diminui a energia necessária para a honestidade.
Depois de completar o inventário, alguns de nós hesitamos, na procura da “pessoa certa” para ouvi-lo. Se começamos com a crença de que o inventário é para o nosso próprio benefício, o que acontece a seguir é colocado numa perspectiva melhor. É importante lembrar que ao compartilharmos nosso ser mais recôndito, estamos a dar o Quinto Passo; nenhum outro ser humano nos pode levar através de qualquer dos Passos, e especialmente do Quinto Passo. Essa é uma senda que tem que ser percorrida pelo próprio indivíduo. O padrinho ou madrinha, ou qualquer outra pessoa, não importa se é qualificada para dar conselhos, serve apenas como um ouvido.
Eu, pessoalmente, tive momentos difíceis lidando com cerimônias no programa. Parece-me que isso é a própria antítese de manter as coisas simples. Queimar os pecados do passado pode ser simbólico, dramatizando o fato de que o que foi feito está feito, mas certamente torna mais difícil prosseguir com os Passos Sexto, Sétimo, Oitavo e Nono, a menos que as páginas do inventário – que agora se transformaram em cinzas – tenham sido fotocopiadas.
Como tudo que é compartilhado em CCA, estas opiniões são as minhas, formadas através de oito anos de experiência tanto como escritora como ouvinte de inventários. Acredito que o inventário é o começo de um novo sistema de crenças. Ao escrever essa relação de crédito e débitos, experimentamos a alegria de ver onde estivemos, onde estamos agora e onde estaremos no futuro, com a graça de Deus.

Maio 1982