Testemunho de Novembro
Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.
“Vesti-me com a vossa beleza”
Há Sete anos atrás senti necessidade de aprender a trabalhar o Décimo Primeiro Passo. Tinha eliminado recentemente a lista crítica e estava disposta a tomar medidas drásticas para evitar repetição.
Ser agnóstica aumentava o problema, mas eu era tranquilizada pelo Grande Livro: “Nossa conceção, mesmo que inadequada, era suficiente para a abordagem…” E: “Não deixe que nenhum preconceito que você possa ter contra termos espirituais impedi-lo de perguntar-se o que significam para você”.
Comecei com a Oração de São Francisco: “Onde houver ódio, que eu leve o amor”. E de repente fiquei com raiva. Tinha dado amor na ausência de amor durante tantos anos que estava sendo destruída pelo amor. Na época não sabia que os psicólogos rotulam essa condição como “dependência neurótica”.
E eu achava que era tão forte! Felizmente, quem era forte era o sacerdote do hospital, com quem conversei sobre minha raiva. Ele disse que eu parecia estar tentando forçar-me a aceitar um Poder Superior. Sugeriu que eu trabalhasse o “vá com calma”, e começasse por me amar. Ele estava certo de que eu descobriria um modo aceitável de cultivar meu contato consciente com meu Poder Superior.
Como igreja e religião fazem com que me sinta desafiante e hipócrita, fui forçada a descobrir o meu próprio caminho. Felizmente agora tenho a sabedoria e a humildade de ser grata porque esse modo funciona, não importa quão inadequado pareça para os outros.
O lugar em que medito é, por agora, o banho de espuma em que, a cada manhã, fico sozinha e separada do resto do mundo e, ainda assim, sinto-me segura e aquecida. Meu Poder Superior ainda não é definido; não é nada mais do que “uma força para o bem” que sinto internamente. A meditação veio a ser vinculada a ficar “limpa”, o que é uma parte normal do começo do dia (é daí que vem “limpeza está próxima de devoção”?)
O modo “vá com calma” de meditar começou a causar em mim mudanças sutis ao longo de um período de anos. A oração que escolhi para recitar mais parece um poema. Sem perceber, gradualmente eu a memorizei, e agora faz parte de mim. Recentemente soube que é de algo chamado “Oração por virtude”. Se tivesse sabido disso há sete anos atrás, tê-la-ia rejeitado, pois já me considerava virtuosa, e um Quarto Passo não tinha revelado nenhum defeito!
Tenho consciência de que se tivesse escolha abandonaria essa prática, mesmo sabendo que a alegria de viver que agora experimento é resultado direto de trabalhar os Passos. Mas também sei que seria tola se permitisse que isso me escapasse por causa de uma inclinação natural para empregar o meu tempo em algo mais emocionante.
Substituindo minha anterior arrogância há um pequeno medo novo, que me diz que se abandonasse o Décimo Primeiro Passo, em breve eu seria meu antigo ser, que perguntava, quando eu estava na UTI: “Por quê eu?” Então, só por hoje, estou disposta a me cercar de espuma e a melhorar meu contato consciente, recitando:
“Na calma hora matinal venho a vós para obter paz. Dai-me a capacidade de vez o mundo, hoje, com olhos cheios de amor. Ajudai-me a ser paciente, gentil, sábia; para ver além das aparências… Vesti-me com vossa beleza, para isso rezo – dai-me a graça de fazer a vossa vontade hoje”.
Junho 1979