Testemunho de Setembro
Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.
“O melhor está por vir”
Agora que passei quinze anos com Comedores Compulsivos Anônimos, faço uma pausa para refletir sobre os muitos benefícios que me vieram do programa e que continuam a se desdobrar.
Quando dei o Primeiro Passo, há tanto tempo, admiti minha impotência perante a comida, minhas emoções e minha doença. Hoje ainda tenho que confrontar essa impotência, aceitá-la e continuar daí.
Aprendi que não importando quão desencorajadora possa parecer, nenhuma situação da vida é permanente e definitiva. Com CCA, a porta para a mudança está sempre aberta.
Eu, uma mulher que nunca deixaria você saber como me sentia, agora posso expressar meus pensamentos. O sigilo era o principal sintoma de minha doença: eu tinha um mundo secreto no qual comia em segredo. Um dia, esse mundo começou a se desintegrar: foi no dia em que comecei a me abrir para as pessoas.
Antes, eu corria para escapar de mim mesma, precisando estar sempre rodeada de barulho e agitação; agora, medito e consigo forças no silêncio.
Assimilei gradualmente as palavras da Oração da Serenidade. Submeto-me mais prontamente ao que devo aceitar. E quando preciso de coragem para enfrentar desafios difíceis, ela geralmente está lá. Frequentemente acontece que eu preciso é da coragem para falhar. As lições que aprendi com os fracassos trouxeram-me, a longo prazo, recompensas que ultrapassam as do sucesso fácil. Saber disso é perceber que não falhei realmente.
Aprendi que é mais fácil viver no que é certo do que no que é errado, e que pensamentos positivos estabelecem um modelo para ações positivas.
Aprendi a ser flexível em tudo, inclusive na abstinência. Dizem que quando uma pessoa cai, é menos provável que um osso se quebre se ela estiver relaxada. Por outro lado, se a pessoa está tensa e rígida, em uma queda pode fraturar uma perna ou um braço. Assim acontece com a abstinência. Se sou flexível, sei que posso começar de novo, que uma quebra de abstinência não é imperdoável, que sempre tenho uma oportunidade. O importante é minha condição espiritual, e não o que eu como.
Aprendi que CCA não é um programa de dieta, um programa de redução, um programa de vinte e um dias ou qualquer outro tipo de programa; é um programa de um dia de cada vez. Recuso-me a projetar meu programa além destas vinte e quatro horas.
Aprendi que se não posso aceitar-me gorda, não há modo de vir a aceitar-me magra. Aceito-me exatamente como sou, onde estou, sabendo que com todas as minhas imperfeições, sou a melhor que sou capaz de ser hoje.
Agora posso “viver em companhia do amor”. E digo a todos de quem sou madrinha para fazerem o mesmo. Não há ser humano vivo que possa resistir a uma afirmação positiva de amor. Só posso oferecer amor quando vejo você com os olhos do amor. Não importa se você está incapaz de corresponder. O meu papel é enviar; receber é sua tarefa.
Aprendi a arte de ouvir. Agora posso ouvi-lo. Ouvir é uma forma de amar.
Aprendi, depois de anos ansiando por ser parte de alguém ou de alguma coisa, que pertenço a uma comunidade. Embora estivesse casada há quarenta anos com o homem que eu amava, ainda assim sentia que não estava em meu lugar. Descobri que é impossível ter a sensação de pertencer quando a pessoa está alienada de seu ser real. Com a aceitação de mim mesma e desta Irmandade de carinhosos homens e mulheres, encontro uma sensação de mútuo pertencer, e um objetivo comum com eles e com tudo na vida.
Aprendi que não há coincidências em minha vida. Fui colocada no lugar certo e no momento certo por meu Poder Superior. Não tenho mais que viver este programa sozinha. As diretrizes e a orientação que desejava, e era desesperada para conseguir, eu tenho, gratuitamente.
Aprendi que tenho valor. Uma vez, quando ouvi um orador de AA dizer isso, não compreendi. Hoje, valor e dignidade são elementos que fazem parte de minha vida, e que aprecio.
Hoje posso dar aos outros o que o programa me deu. Devo prestar serviço ao grupo, ao intergrupo, à minha Região e ao Serviço Mundial. É somente dando que posso esperar guardar a dádiva deste abençoado programa.
Estes quinze anos têm sido os mais felizes, satisfatórios e instrutivos de minha vida. Acima de tudo, aprendi a ser grata.
Somente em Comedores Compulsivos Anônimos posso acreditar, com Robert Browning, que, à medida que amadureço no programa, “o melhor está por vir”.
Julho 1979