Testemunhos de Agosto

Testemunhos de Agosto

Estes testemunhos preenchem as páginas da Lifeline, a revista mensal de Comedores Compulsivos Anónimos. São resultado do trabalho de pessoas que escrevem, não como autores profissionais, mas como comedores compulsivos que estão se recuperando através da prática do programa de Doze Passos.

Lemas para todas as ocasiões

“Parafraseando Will Rogers, nunca ouvi um lema de CCA ou de AA de que eu não gostasse. Mas há três deles que têm significado especial para os comedores compulsivos abstinentes que tentam lidar com divertimentos, festividades e comidas de determinadas épocas do ano.
A abstinência é a coisa mais importante em minha vida, sem excepção.
Muitos CCA’s lutam contra isso. Como pode ser verdade? A família ou as pessoas amadas não vêm em primeiro lugar? Essa não é uma declaração egoísta?
Não é. Acreditando inequivocamente nesse preceito e colocando-o em prática com senso de total comprometimento, beneficiamo-nos a nós mesmos e a todos com quem entramos em contacto. Muitas coisas surpreendentes acontecem quando colocamos a abstinência em primeiro lugar em nossa vida. Desde o momento em que desistimos da ilusão de que podemos controlar à vontade nossa alimentação, a esperança surge. Tudo se torna possível, e ao mesmo tempo experimentamos profunda satisfação com o que é, uma plena valorização do hoje, como nunca conhecemos antes. Foi-se o desespero que às vezes nos mergulhava em sombrio silêncio e, outras vezes, explodia em rompantes de raiva contra os que nos eram mais chegados. Pensamentos e acções “gordos” não nos tornavam dignos de amor ou facilitavam a convivência connosco, nem nos habilitavam a estar verdadeiramente a serviço dos outros.
Com a abstinência, emerge uma nova pessoa. Amamo-nos, e ao mundo que nos cerca. Como se fôssemos borboletas rompendo o casulo, reaparecemos com uma nova visão da vida e uma maravilhosa sensação de realização e de valorização. O passado está terminado.
A abstinência é essencial para o comedor compulsivo. Se for quebrada, mesmo por breve período, a antiga pessoa que foi deixada para trás volta. Fazer da abstinência a coisa mais importante da vida, sem excepção, é na realidade um ato de amor por nós mesmos e pelos outros, e não egoísmo.
Tente!
Vá com calma!
“O céu está caindo” – diz a galinha na história infantil. Isso pode aplicar-se a alguns de nós quando, subitamente, a despeito da auto valorização, da serenidade, do apoio de CCA, nos desviamos mesmo que levemente do programa de CCA.
Por quê? Vá com calma.
O trem do nosso pensamento corre sobre trilhos familiares: “Falhei; então, por que não desistir e começar a comilança? Depois vou começar o programa outra vez.
Mas “depois” pode não chegar; podemos nos desviar ou descarrilar, e podemos entrar em pânico – a menos que vá com calma permaneça em nossa mente. Está certo, saímos do caminho – talvez porque fomos muito rígidos. Mas não precisamos nos censurar. Tudo que precisamos lembrar é “vá com calma”. Funciona!
Um dia de cada vez
“Não há maneira de ficar abstinente agora; estão se aproximando as festas, as refeições dos feriados, etc. Vou esperar até ver o caminho desimpedido; assim, não falharei”.
Essa é uma “isca” a que poucos de nós resistimos, ao longo dos anos. É uma racionalização fácil. Mas em CCA não protejamos atos futuros. Ficando abstinentes só por hoje – não importam as ocasiões ou as circunstâncias – a perspectiva automaticamente se restabelece. Comer ou não comer não é mais um problema; nem mesmo é uma pergunta.
A menos que tornemos isso um assunto, ninguém se importa com o que comemos ou bebemos nas festas, e nas refeições dos feriados só mártires insistem em ficar separados dos outros. Milhares de CCAs sabem que podem apreciar boa comida e permanecerem abstinentes.
Quando a compulsão por comer demais surge, tente afastar-se por quinze minutos. Telefonar para outro membro de CCA ajuda. Geralmente a obsessão desaparece depois de pouco tempo. Há a compreensão de que o que você pode fazer por quinze minutos pode ser feito durante várias horas, durante um dia inteiro. Isso é tudo que precisamos.
Com pequenas realizações, um pouco de cada vez, e não se preocupando antecipadamente com a quebra de abstinência, tudo fica progressivamente mais fácil.
Um dia de cada vez elimina o tormento da preocupação.
Durante os feriados, tenho ainda mais certeza de que a abstinência é a coisa mais importante em minha vida, sem excepção; que posso assegurá-la se abordo os desafios e as alegrias de cada dia no espírito de “vá com calma”; e que não haverá muito que exigir de mim se pensar que só terei que fazer isso um dia de cada vez.
Boas festas!”
Dezembro 1978